As origens exatas da prática meditativa são desconhecidas, pois remontam a épocas muito anteriores á língua escrita e aos registros históricos. Mas sabemos que no oriente antigo, mais especificamente na Índia de 3.500 anos atrás começam a surgir os primeiros registros escritos sobre Meditação nas escrituras conhecidas como Vedas (Sharma, 2015), ainda que saibamos hoje que algumas práticas védicas tinham sido transmitidas oralmente pelos sábios Indo-Arianos, chamados Rishis, por séculos antes de serem escritas.
Os Vedas e mais tarde as escrituras chamadas Upanishads surgiram como produtos naturais das reflexões filosóficas destes Rishis, reflexões que iam desde perguntas amplas sobre o Cosmos até ao importante questionamento sobre a natureza da existência e da totalidade (Brahman), da consciência e do si-mesmo (ātman) (Mark, 2020).
Contudo, a prática contemplativa é possivelmente ainda mais antiga. O pesquisador e psicólogo Matt J. Rossano sugere que rituais em grupo e meditações entorno de fogueiras entre 200.000 e 150.000 anos atrás podem ter ajudado nossos ancestrais a desenvolver este estado contemplativo, algo que foi transmitido oralmente por inúmeras gerações até o surgimento da linguagem e o momento da invenção da língua escrita (Rossano, 2007).
Esta prática de usar o fogo como uma âncora de atenção para focar a mente (Jaffe, 2007) é uma técnica usada ainda hoje no Yoga para gerar concentração e calma. O renomado historiador das Religiões Mircea Eliade ressalta que meditações guiadas xamânicas existiram muito antes da chegada da escrita em culturas humanas de caçadores-coletores (Eliade, 1972), o que pode ter ajudado a estabelecer fundamentos cruciais das práticas contemplativas, como as conhecemos hoje.
Outras formas de meditação também ocorreram no ocidente como no judaísmo antigo, nos paganismos pré-cristãos e na tradição da Grécia antiga, mas isto pode ser um assunto para outro artigo. Além disso, é preciso enfatizar que foi na Índia antiga que a Meditação foi se desenvolvendo robustamente enquanto uma prática de autoconhecimento, com seus aspectos filosóficos e terapêuticos. As técnicas usadas por estes sábios antigos, que começaram as serem descritas nos Upanishads, as primeiras narrativas filosóficas mais profundas da Índia Antiga, atravessaram milênios e chegaram até nós na atualidade como práticas fundamentais para a autodescoberta e o encontro da paz interior.
Muitas formas de Meditação foram se desenvolvendo nos séculos que se seguiram aos Upanishads, em outras religiões indianas, como também após a expansão do Budismo pela Ásia, principalmente na China, Tibet e Japão. Todas estas tradições, contudo, tem seu berço na Índia antiga.
De modo geral, a prática meditativa enquanto um componente mais formal do caminho espiritual foi aprimorada pela tradição budista, que inicia a partir do Buddha histórico, Siddhartha Gautama, em torno de 600 a.C. Buddha fundou uma jornada experiencial que inspirou dezenas de gerações de praticantes a meditar fazendo uso de ferramentas simples como as sensações de nosso próprio corpo e a nossa respiração, renovando a abordagem contemplativa da tradição védica anterior que talvez tenha ficado mais preocupada com rituais e práticas de caráter devocional.
E foi devido a estabilidade destas tradições indianas que a Meditação chegou aos dias de hoje. A partir do fim do séc. XIX, o ocidente começa a se interessar pelo oriente e as práticas contemplativas alcançam a modernidade culminando no Mindfulness e nas comprovações científicas de técnicas milenares.
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Um abraço, Marcus
* Referências:
Eliade, M. (1972). Shamanism: Archaic techniques of ecstasy. Routledge & Kegan Paul.
Jaffe, E. (2007, February 1). Meditate on it. Could ancient campfire rituals have separated us from Neanderthals? Smithsonian Magazine. Retrieved May 16, 2023, from https://www.smithsonianmag.com/science-nature/meditate-on-it-147282062/.
Mark, J. J. (2020). The Vedas. World history encyclopedia. Retrieved May 16, 2023, from https://www.worldhistory.org/The_Vedas/.
Rossano, M. (2007). Did meditating make us human? Cambridge Archaeological Journal, 17(1), 47–58.
Sharma, H. (2015). Meditation: Process and effects. Ayu, 36, 233–237.
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